Estive
recentemente nos Açores, onde acompanhei as VI Jornadas Florestais Insulares, muito
bem organizadas pela Direcção Regional dos Recursos Florestais. Os trabalhos,
que decorreram nas ilhas do Faial e do Pico, reuniram técnicos dos Açores,
Madeira e Canárias na discussão de um vasto conjunto de assuntos relacionados
com a floresta da região Macaronésica. É impressionante a diversidade de desafios
que enfrentam esses territórios insulares atlânticos.
No caso
concreto dos Açores, trata-se de um território fragmentado por nove ilhas, cada
qual com as suas especificidades e dinâmicas próprias, mas com um denominador
comum - actividade agro-pecuária do sector leiteiro. A floresta ocupa cerca de
31% do território, constituindo uma componente estrutural da paisagem rural dos
Açores.
A floresta de
protecção e a floresta natural, que reúne um conjunto interessante de espécies
endémicas com um elevado nível de biodiversidade, compreendem aqui uma área
significativa (60-65% do coberto florestal). Este tipo de floresta desempenha
um papel insubstituível na protecção do solo, na regulação do regime hídrico,
bem como na conservação da natureza e da biodiversidade. Nas manchas de floresta
de Laurissilva das zonas montanhosas do nordeste da ilha de São Miguel encontra-se
o habitat de uma das aves mais ameaçadas no mundo - o Priolo.
Cryptomeria japonica |
Hoje, a
floresta de Criptoméria representa cerca de 60% da floresta produtiva e
constitui um activo da economia rural regional, nomeadamente na ilha de São
Miguel, onde existem alguns recursos próprios de uma fileira florestal assente
na transformação de madeira.
Desde a
publicação, em 2006, da Estratégia Florestal Regional que a política florestal tem
vindo a assumir, cada vez mais, um papel activo no desenvolvimento rural
sustentável da região. A valorização da floresta, da complementaridade das suas
diferentes funções e na compatibilização com a actividade agro-pecuária e com o
turismo de natureza, tem sido uma preocupação do Governo Regional.
O anuncio
feito pelo secretário regional da Agricultura e Florestas, Noé Rodrigues, na
abertura dos trabalhos acerca do empenho do Governo dos Açores no elaboração de
um Plano Regional de Ordenamento Florestal, para assegurar a certificação dos
recursos florestais do arquipélago, é uma boa notícia. Conjugado com o plano de
marketing para o fomento do uso da madeira de Criptoméria (recentemente,
foi lançada a marca “Criptoméria Açores”), cria um conjunto de condições de base
que colocam no horizonte a necessidade de avançar para o passo seguinte: a
criação do cluster silvo-industrial da “Criptoméria dos Açores”.
O próximo
período de programação comunitária 2014-2020 constitui uma oportunidade ímpar
para o desenvolvimento desse novo cluster da fileira florestal. Será um período
propício para o fomento do conhecimento e da inovação, quer em novas técnicas
de instalação e condução dos povoamentos, quer em novos produtos. Nesse
contexto, o cluster da Criptoméria dos Açores terá condições para relançar
o uso da madeira de Criptoméria no mercado interno e apostar no aumento da
exportação para o continente e até para novos destinos intra e
extra-comunitários. Todavia, para concretizar esse objectivo, primeiro será
necessário organizar a produção e certificar quer a gestão florestal
sustentável dos seus povoamentos, quer toda a cadeia de transformação a
jusante.
Em síntese, a
preparação do próximo período de programação encerra um conjunto de desafios e
oportunidades para o sector florestal regional. São desafios que se enquadram
nos objectivos inscritos na Estratégia Florestal Regional de melhorar o valor
económico do sector florestal, aumentar a diversificação da produção e criar
novas oportunidades de mercado, quer em sectores tradicionais, quer em sectores
emergentes como as energias renováveis, mantendo, simultaneamente, a gestão
sustentável e o papel multifuncional das florestas.
O sector
florestal pode aumentar o seu contributo para o desenvolvimento sócio-económico
e ambiental da Região Autónoma dos Açores. Nesse sentido, a criação de uma
organização de produtores florestais, a estruturação da fileira de Criptoméria
dos Açores (e a correspondente a aposta na inovação e no conhecimento) e a valorização
do papel da floresta na protecção dos recursos naturais e do ambiente, no
quadro mais vasto do ordenamento do território, poderão constituir as linhas
orientadoras para a afirmação e sustentabilidade do sector florestal na região.
A programação
dos apoios comunitários para o sector florestal no período 2014-2020 constitui
um desafio decisivo para o futuro da floresta na Região Autónoma dos Açores, um
desafio colectivo que está ao alcance dos agentes do sector florestal.
Miguel Galante (Eng. Florestal)
Publicado na Gazeta Rural, edição n.º 180 (Jun.2012)
Publicado na Gazeta Rural, edição n.º 180 (Jun.2012)
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